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Migrando

  • Foto do escritor: Marina Soncini
    Marina Soncini
  • 22 de nov. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 10 de out. de 2023

Sobre ser alguém e não ser ninguém, a identidade provavelmente cabe numa garrafinha de suco de maça, que quando você abre, se espalha de ponta a ponta até perder de vista. O reconhecimento próprio passa por muita coisa, inclusive por onde se passa. Se enganou quem pensou que descobrir quem somos é o reto da vida, porque no fim a gente realmente nao é e só vai sendo. E de um jeito muito fluido, o ser que somos constrói identidades inúmeras ao longo da vida, e talvez por isso se faça tao única.


É curioso o quanto estar longe da sua terra pode te conectar com ela, assim como é difícil colocar em palavras concretas o quanto essa distância influencia nessa construção. Estar longe nunca significa estar verdadeiramente longe, para começo de conversa, e isso todo mundo já sabe. Eu digo que esta mais para uma eterna mistura e concordância de sim habitar internamente mais de um espaço, e permitir em retorno que esses 2 ou mais espaços te habitem também.


Nem sempre eles vão concordar, nem sempre vão estar equilibrados dentro da balança emocional. Tem dias que lá doi enquanto aqui faz sol, e outros que é pura tempestade enquanto você chora de alegria. Com o tempo se descobre que, a pesar de algumas permanencias, essa própria mescla e movimiento é que vai construindo essa identidade de potinho, de chorinho, de desencontros e reconhecimentos. Você vai percebendo que partes da sua história, essas que você vai encontrando pela rua a milhares de quilometros longe, tem raízes lá e vieram a florescer só aquí.


A adaptação te leva a adotar palavras, gestos, gostos e costumes diferentes, as vezes de forma quase incosciente. Você adapta seu paladar, seu horario de almoço, e seu guarda roupa quando ja não encontra seu estilo facilmente em qualquer loja. Talvez seja inevitável o re-conhecer-se. Quem sou eu pelos novos olhos, meus e de outros, pelo novos sabores e o novo cropped que eu comprei sem nem gostar. Buscar se sentir como antes é lutar uma briga perdida com o que, nesse novo momento, ja nao é.


Essa mesma adaptação, de reconhecimento no novo, é a que traz também o reconhecimento do antigo. O antigo, diga-se de passagem, que não existiría sem, justamente, o novo. Confusões poéticas a parte, espero que me explique quando digo que, as vezes, agua nova é que faz crescer raíz. Reconhecer e renvidicar a terra natal que vive dentro parece ser quase vital para se adaptar, e é também inevitável dentro da construção da nova identidade que surge.


Você equece uma ou outra coisa e começa a se expressar de forma diferente, mas ao mesmo tempo você se sente mais latina que nunca. Você entende que suas raízes estão aterradas tão fundo que ultrapassam qualquer limite geográfico, e começa a se reconhecer para além da fronteira. Eu ja reivindicava minha brasilidade, seja lá o que isso signifique, mas descobri que ela faz parte de algo muito maior, e expandir minha identidade para territorios vizinhos tem se mostrado incrivelmente potente.


Pode que, no fim e no caminho, você se entenda como muitas coisas, cada hora uma, cada dia um dia. A mistura que se faz sobre o que você traz, o que leva, o que acolhe e o que entrega desemboca num único aguacero. A verdade é que é impossivel separar quem você foi antes de quem se é agora e, por mais irônico que seja, onde você foi parar te leva cada vez mais perto pra de onde você veio. Com uma singularidade quase dolorida, essa percepçã só tem quem não esta mais lá.


Eu sigo aquí, minha terra segue lá. Faco meu o mar daquí, e sem enforço ele me aceitou para morar. A felicidade que encontrei é tão subjetiva, que não saberia dizer de onde puxei mais fio. Ela é parte constante do movimiento, da arte que esta no meio do caminho e me atravessa de tanta coisa que, sinceramente, fica difícil mostrar sem dançar. O encontro é a mistura, é o que de novo surgue por reconhecer o que não se conhecia. Era o que eu vinha procurando.

1 comentário


Giordano "Zéva" Azevedo
Giordano "Zéva" Azevedo
30 de nov. de 2022

Sorri muito lendo cada palavra desse texto!!! S2

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© 2021 por Marina D. Soncini.

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