O desconforto faz parte

O desconforto faz parte. Tendo parado de tomar remédio pra ansiedade e fazendo minha primeira tentativa de ficar sem ele, preciso dizer que o desconforto faz parte. Ele vem, vai e volta. Ainda não ficou por muito tempo, mas tem se feito presente mais do que eu gostaria. O peito aperta sem motivo e o alerta acende pro que pode vir depois.

É obvio que eu gostaria de dizer que estou 100%. A verdade é que por muitas vezes eu me sinto bem como me sentia antes de começar a ter crises, até o desconforto aparecer de novo. Sinto como se os espaços entre os momentos durassem pouco, e admito também que tenho medo que durem cada vez menos. Tenho medo de me ver em algum momento lidando mais com o desconforto do que com a alegria, de ele tomar conta de mim novamente e eu voltar a sentir que perdi o controle que na verdade nunca tive.

A verdade é que quando me propus essa tentativa, sabia que podia acontecer. Quase sabia que ia acontecer, mas aceitei o que viesse, porque achei que valia a pena tentar. O desconforto faz parte desse processo como faz de muito outros na minha vida, e tirando os momentos que me impedia de viver, ele deve – provavelmente – ter seu valor. Ele aparece em situações diversas, até naquelas onde eu nem imaginava, e apesar de fazer parte de mim, não define quem eu sou. ‘Eu sou o que escolho fazer com ele’ pode ser quase já um clichê, mas ainda soa verdadeiro. Se eu escolher enfrentar ou acolher, me encolher ou expandir, tudo bem, vou descobrindo novos limites.

O desconforto vai estar presente quer eu queria ou não, e escolher lidar com a presença dele é de uma coragem e tanto. Não é pra qualquer um escolher ir de encontro com uma sensação desagradável. Saber que pode vir a cair na frente de todos ou cair sozinha, escolha o seu pior. Se entregar pra vida sem a certeza de que vai ter a leveza que tanto gosta esperando em cada esquina pode ser duro, mas não aprender a lidar com o desagrado é abrir mão de eventuais deliciosas aventuras – interiores e exteriores. Viver com coragem é realmente desconfortável, mas não viver pelo medo do desconforto ainda em parece pior.

O desconforto faz parte e, sentindo ele agora enquanto escrevo tudo isso, eu falo pra mim mesma que tudo bem ele estar ali. Eu tento abraçar o meu sensível repetindo quase como mantra que não há problema em a garganta apertar de vez em quando. O desconforto faz parte e eu sei que eu aguento o tranco. Eu estou aqui afinal de contas. Eu posso pedir ajuda se precisar, posso voltar a tomar remédio se achar melhor e acima de tudo posso ter certeza que estou lidando com o desconforto da melhor forma que eu posso. E ele vai passar. Alguma hora ele vai passar e, enquanto isso, eu to respirando fundo e dizendo que tudo bem ele ficar.