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Cuando o sol se atrasa

2023

Cuando o sol se atrasa é uma coletânea de poesias partidas de um inverno doloroso e largo. 

Dois anos depois de chegar em Barcelona, o vento pareceu ficar cada vez mais gelado, ao passo que a realidade de muitos fatos también foi ficando mais dura e concreta. A migração perdeu seu ar de esperança e começou a mostrar os dentes num momento interno depressivo e turbulento. Borbulhando os anseios e sem poder sentir o sol na pele, me escondi no arquivo que hoje publico aqui. 


Essa coleção segue em desenvolvimento, acompanhando a passagem da primavera e a chegada do verão. Os poemas viajam entre meus verões e invernos internos, incluem muito do sol e do vento de Barcelona e sao atualizados nessa página periodicamente. 

quando o sol se atrasa
eu não abro a janela
a sacada fica isolada
eu me escondo na coberta

quando ele aparece
a depender do mês, eu apareço
boto a cara na rua
ando desnuda

quando ele aparece depois das 8
me complica la vida
me desanima a saída

mas quando ele passa a madrugada comigo
pouco importa se vai ser nublado
vem e vai sem se despedir
e na minha cama continua o céu,
despejado

eu sempre quero comer uma galleta
isso porque sou uma mulher formada
e sei bem dos meus antojos
me dá preguiça sair com gente nova
então saio só pra comprar pilha

saí para comprar um caqui
me comprei 5 bananas,
uma manga
e três caquis

as melhores frutas de todas
segundo a minha opinião

menos de dois dias depois
as bananas já querem estragar
e a manga tem fiapos
(não gosto)

dos três caquis, só me comi um
maduro demais, mas não gostoso de menos

dois anos morando sozinha
dois caquis na geladeira
três bananas congeladas
e ainda perco em dois dias
os exageros da fruteria

que forte quando me atinge a cólica
espreme meu útero
e parece que aperta junto
tudo que eu ignorei nas últimas duas décadas

sinto se fechar um ciclo
acho que faz sentido

o corpo contrai
com o passar das estações
coisa que o clima subtropical
não te permite notar tanto

tudo tão rápido e ao mesmo tempo tão sutil
de um mês ao outro
se foi um verão
se foram vários planos
de ponta cabeça
de um lado pro outro
o chá já esquenta no fogão
e meu sorriso ainda não se esconde
não por completo

de medo e agonia
cada manhã se faz diferente
na mesma rotina
esse meio termo:
não quero voltar, tenho receio de seguir.
Interna e incessantemente
vivo nessa (não) eterna meia estação:
o presente

não acho que não identifique o que sinto
reconheço até que muy bien
eu só prefiro ignorar, mesmo

a cidade inteira
tem o ruído da tua chegada
aunque sea só pra mim
que ela ressoe assim tão cargada

do lado bom do vento
onde as voltas se fazem mais estreitas
eu me percebo inconsciente
esperando, um pouco impaciente
poder ver esse rompante

um em muito menos de 1 milhão
querido, tu sempre vem na contramão
e quando eu chego, não me dá nem tempo
de esconder o meu sorriso,
um meio sorriso
da minha meia surpresa já esperada

me subo eu nessas duas, três rodas
nas tuas modas
me deixo
saio a passear
a divagar
onde me has encontrado
aqui em baixo mar
não muito longe de ti

© 2021 por Marina D. Soncini.

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